terça-feira, 12 de agosto de 2008

Aquele friozinho na barriga....

Numa certa tarde de outubro, me encontrei com a Evinha no ônibus indo para o colégio. As caras eram de sono, pois já tínhamos tido aula pela manhã e só de pensar que teríamos que retornar para a escola na parte da tarde, nossas expressões faciais não eram lá que sorridentes...Porém, naquela tarde quente de primavera, Evinha era dona de um olhar peculiar e misterioso.Algo de muito bom ou muito ruim tinha acontecido, e eu como uma boa "aborrecente", curiosa, dotada de energia e especulação ,logo, logo já fui indagando sobre o mistério. Evinha era tímida,dona de uma personalidade forte, sentava na primeira fileira e queria ser médica. Eu?!?... não sentava na primeira fileira( pertencia a galera do fundão), não era tímida e nem cogitava nenhuma profissão naquela época, afinal nós só tínhamos 14 anos ?!?!?( risos). Mas, nos idenificávamos.Na ida e na volta da escola, vínhamos relatando nossas vidas uma para outra. Ríamos muito das minhas histórias, falavámos um pouco sobre meninos, colégio, e um "pouquinho" mal dos professores.
Então, naquela tarde de outubro ensolarada e sonolenta, Evinha com seu jeito tímido e voz baixa abre seu pequeno coração e me relata que havia conhecido uma rapaz, o Sabidão.
Sabidão, era uma rapaz mais velho, charmoso, experiente e ja´tinha tido algumas namoradas, inclusive a Evinha. Eu, como boa ouvinte que sempre fui, estava quieta, atenciosa e impressionada. Em minha cabeça, o primeiro pensamento foi: " O quê? Evinha já namorou alguém? Como que nunca ficamos sabendo?". E logo, matraquei algo do tipo: "tu já tiveste um namorado?...hm...as quietinhas são as piores" ...Evinha ficou vermelha e não deve ter gostado muito do meu comentário pomposo,mas nenhuma grosseria podia se esperar de Evinha.
Eu nunca tinha visto Evinha assim! Ao desembaraçar de nossa "trova", vários eram os sentimentos que Evinha expressava: ansiedade, ternura, amor, tristeza e medo...Ela falava de sentimentos no qual eu já tinha ouvido mas nunca "sentido" e transpareceu algo que nunca tinha visto em seu semblante: insegurança.
Sabidão, tinha "pisado na bola" com a Evinha, mas acho eu que estava arrependido ou ainda apaixonado e pedia uma segunda chance. Evinha, ao invés de retomar com seu antigo amor, uma atitude na qual qualquer adolescente com os hormônios a flor da pele e cheio de vontade de amar faria, perguntou a si mesma se estaria preparada para amá-lo novamente e sentiu aquele friozinho na barriga, mas um friozinho com sensação de medo. Medo de errar, medo de se magoar, e principalmente medo de não tentar e não ser feliz novamente. Uauuu!!! Como uma menina tão inexperiente falava assim de sentimentos tão fortes e verdadeiros? e porque ela me escolheu como ouvinte? Naquele dia, eu não tive a resposta. Porém, a história de Evinha, ao decorrer dos anos, começou a pertencer a inúmeros personagens que assim passaram em minha vida...
Enfim, esse medo que temos de ser felizes, essa sensação de frustração quanto aos nossos senimentos, faz-se novamente presente a inúmeros momentos em nossas vidas. Seja na profissão,na faculdade ou um amor perdido querendo se encontrar...Mas, o que me pergunto é se isso seria um sinal de "Ok..pode parar por aí" ou "Vamos lá..tentar ser feliz novamente".
Agora, aqui estamos: Eu e Evinha , frente a frente, lado á lado...Mas, com o sujeito da história diferente.
Finalizo com versos roubados de Renato Russo:

"E quem um dia irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pela coração"

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